Publications

Export 42 results:
Ordenar por: Autor Tipo [ Ano  (Desc)]
Forthcoming
Carvalho, E. M. (Forthcoming).  A percepção afetiva de affordances. Abstract

Em virtude da virada afetiva nas ciências cognitivas, nota-se um interesse crescente em atualizar a psicologia ecológica para que ela incorpore de modo mais frontal o papel da afetividade na percepção. A distinção entre affordances e solicitações foi introduzida com esse propósito. As primeiras são relações mais estáveis entre o ambiente e habilidades disponíveis em uma forma de vida e não dependem da percepção, nem dos estados afetivos de organismos particulares, ao passo que as solicitações são transitórias, individuais, dependentes da percepção e profundamente emaranhadas aos afetos correntes de um organismo em particular. Rob Withagen radicaliza essa distinção em dois aspectos: (i) affordances deixam de cumprir um papel explicativo do comportamento do organismo, apenas solicitações o fazem; (ii) solicitações não são apenas affordances relevantes afetivamente carregadas, elas abrangem também percepções errôneas afetivamente carregadas. Argumento que Withagen foi longe demais. Se entendemos as affordances como uma relação entre as habilidades de um organismo individual e o seu ambiente, então já temos recursos suficientes para incorporar a afetividade. Afetos tanto constituem habilidades perceptuais quanto modulam o seu exercício, de modo que não há percepção de affordance completamente livre de afetividade. Estados afetivos são cruciais para dirigir a nossa atenção para as possibilidades de ações que são relevantes para a atividade em que estamos engajados e para nos dar um senso da qualidade da nossa relação com o ambiente.

Carvalho, E. M. (Forthcoming).  Valores na Ciência e a perspectiva ecológica do conhecimento científico. Ciência: epistemologia e ensino. , Rio de Janeiro: Editora do PPG Filosofia da UFRRJ Abstract

• A dicotomia entre fato e valor apoia o ideal de ciência como livre de valores;
• Valores não-cognitivos estão presentes em todas as etapas da prática científica;
• Suposições de fundo e valores são necessários para estabelecer o que é evidência para o quê;
• Os riscos atrelados ao uso de uma hipótese científica afeta o limiar de evidência para a aceitação dessa hipótese;
• A distinção entre teoria e aplicação é insuficiente para apoiar o ideal de ciência como livre de valores;
• O conhecimento científico é situado e sempre envolve alguma aplicação ou uso;
• A perspectiva ecológica do conhecimento elimina a dicotomia entre fato e valor;

2023
Carvalho, E. M. (2023).  O disjuntivismo ecológico e o argumento causal. Trans/Form/Ação. 46(Edição Special 1), 147-174. AbstractWebsite

Neste artigo, argumento que a abordagem ecológica da percepção oferece recursos para desarmar o argumento causal contra o disjuntivismo. Segundo o argumento causal, como os estados cerebrais que proximamente antecedem a experiência perceptiva e a experiência alucinatória correspondente podem ser do mesmo tipo, não haveria portanto uma boa razão para rejeitar que a experiência perceptiva e a experiência alucinatória correspondente tenham fundamentalmente a mesma natureza. O disjuntivismo com respeito à natureza da experiência seria assim falso. Identifico três suposições que apoiam o argumento causal: a suposição da indistinguibilidade, a suposição da linearidade e a suposição da duplicação. De acordo com a abordagem ecológica da percepção, essas suposições não se sustentam, abrindo espaço para a defesa de uma versão ecológica do disjuntivismo. Episódios perceptivos se estendem ao longo do tempo e são supervenientes ao sistema organismo-ambiente. Eles também podem ser distinguidos dos 'correspondentes' episódios de alucinação por serem o resultado de um processo controlado de sintonização, ao passo que as alucinações são passivas e refratárias às atividades de exploração e sintonização. Por fim, o disjuntivismo ecológico, na medida em que é imune ao argumento causal, se mostra vantajoso em relação aos disjuntivismos negativo e positivo.

Carvalho, E. M. (2023).  Resenha de Mitchell, Melanie. Artificial Intelligence: A guide for thinking humans. New York: Macmillan, 2019. Principia: an international journal of epistemology. 27(3), 609-623.Website
2022
Carvalho, E. (2022).  A abordagem ecológica das habilidades e a epistemologia dos eixos. Epistemologia dos eixos: interpretações e debates sobre as (in)certezas de Wittgenstein. , Porto Alegre: Editora Fênix Abstract

Neste texto, discuto a interpretação defendida por Moyal-Sharrock, segundo a qual as proposições eixo são maneiras de agir com o objetivo de oferecer uma proposta sobre como compreendê-las. Sustento que a posição de Moyal-Sharrock deixa algumas lacunas, porque não explica a origem das nossas certezas fundamentais. A sua leitura também carece de recursos para responder ao problema da demarcação, uma vez que não é claro como distinguir maneiras de agir que podem legitimamente cumprir o papel de fundamento não fundamentado das que não podem. Sem uma resposta para esse problema, a ameaça relativista é séria. Proponho, então, que as proposições eixo são maneiras de agir constitutivas de habilidades. Desenvolvo também uma abordagem ecológica das habilidades, a qual me possibilita explicar por que habilidades são embebidas-de-realidade e, por conseguinte, por que as maneiras de agir que as constituem são fundamentos não fundamentados legítimos. Com base nessa abordagem, ofereço uma resposta para o problema da demarcação que afasta a ameaça relativista.

Carvalho, E. M. (2022).  Affective Affordances: Direct perception meets affectivity. Perspectiva Filosófica. 49(5), 19-51. AbstractWebsite

In this paper, I explore and examine different ways in which affectivity is related to perception within ecological psychology. I assess whether some of those ways compromise the realist and direct aspects of traditional ecological perception. I sustain that they don’t. Affectivity, at least in some cases, turns the perception of fine-grained affordances possible. For an engaged perceiver, affectivity is not optional.

Carvarlho, E. M. (2022).  An ecological approach to hinge propositions. Sképsis. XIII(25), 1-16. AbstractWebsite

In this paper, I argue that hinge propositions are ways of acting that constitute abilities or skills. My starting point is Moyal-Sharrock’s account of hinge propositions. However, Moyal-Sharrock’s account leaves gaps to be filled, as it does not offer a unified explanation of the origin of our ungrounded grounds. Her account also lacks resources to respond to the issue of demarcation, since it does not provide a criterion for distinguishing ways of acting that can legitimately fulfill the role of ungrounded grounds from those that cannot. Without an answer to this issue, the relativistic threat is serious. I then propose that by narrowing the ways of acting to those that are constitutive of abilities, we can deal with the relativistic threat. I provide an ecological approach to abilities through which I explain why abilities are reality-soaked and therefore why the ways of acting that constitute them are legitimate ungrounded grounds. Based on that approach, I provide an
answer to the issue of demarcation that defuses the relativistic threat.

Carvalho, E. M. (2022).  Epistemologia da Percepção. Compêndio de Epistemologia . , Porto Alegre: Editora Fi Abstract

Tomamos como certo que os nossos sentidos nos colocam em contato com o ambiente ao nosso redor. Enquanto caminhamos em uma rua, vemos obstáculos que temos de contornar ou remover. Mesmo de costas, podemos ouvir a bicicleta que se aproxima e dar passagem. Em suma, por meio de experiências perceptivas (visuais, auditivas, olfativas etc.), ficamos conscientes de objetos ou eventos que estejam ocorrendo ao nosso redor. Além disso, com base no que percebemos, podemos formar e manter crenças acerca do ambiente e, assim, adquirir conhecimento perceptivo acerca do mundo. A importância desse conhecimento acerca do que está ao nosso alcance perceptivo é inestimável para a nossa sobrevivência e a condução de nossos projetos cotidianos. Contudo, podemos querer saber (1) se de fato temos acesso ao mundo físico circundante por meio das nossas experiências perceptivas, e (2) se e como essas experiências justificam as nossas crenças acerca do que percebemos. Esses problemas são centrais para a epistemologia da percepção, embora não sejam os únicos. Nessa entrada, abordaremos esses dois problemas.

Carvalho, E. M. (2022).  Ética da Crença. Compêndio de Epistemologia . , Porto Alegre: Editora Fi Abstract

Há pelo menos três modos pelos quais o debate sobre a conduta doxástica se relaciona com a ética. O primeiro e menos contencioso assinala que o ato de crer, analogamente às ações morais, responde a um tipo de normatividade, não necessariamente moral. Por exemplo, as normas para o ato de crer podem ser puramente epistêmicas. Nesse caso, essas normas diriam respeito a como o agente deve visar ou buscar a verdade. O segundo modo como o debate da ética da crença se relaciona com a ética diz respeito à fundamentação das normas para crer. A ideia é que a adoção dessas normas se fundamenta com base em razões morais e sociais. Por fim, o modo mais substancial consiste em sustentar que o ato de crer, ao menos em alguns casos, é em parte um fenômeno essencialmente moral e que, portanto, razões morais incidem diretamente sobre a legitimidade da crença. Por razões morais, alguém poderia ser recriminado por sustentar uma crença ainda que tivesse evidência favorável para ela. Neste verbete, tangenciando o clássico debate entre Clifford e William James e reações mais contemporâneas ao debate, apresentaremos e discutiremos cada um desses aspectos da ética da crença.

Carvalho, E. M. (2022).  Psicologia Ecológica: da percepção à cognição social. Escritos de Filosofia V: Linguagem e Cognição. , Porto Alegre: Editora Fi Abstract

Texto introdutório à abordagem ecológica da percepção que será publicado na coletânea Escritos de Filosofia V: Linguagem e Cognição, Grupo Linguagem e Cognição (UFAL/CNPq).

Neste texto, apresento e examino as principais ideias que animam a abordagem ecológica da percepção. Primeiro, na Seção 2, apresento a visão instantânea da percepção, contra a qual Gibson articula e propõe a abordagem ecológica. Em seguida, não Seção 3, apresento e discuto a noção de informação ecológica. Nas seções 4 e 5 articulo a teoria das affordances e discuto a aprendizagem perceptiva. Por fim, na Seção 6, exponho e discuto a possibilidade de estender a teoria das affordances para explicar a cognição social.

Carvalho, E. M. (2022).  Textos Selecionados de Filosofia da Cognição. , Pelotas: NEPFIL Online AbstractWebsite

Este livro, organizado por Eros Moreira de Carvalho (UFRGS/CNPq), contém a tradução para o português de sete verbetes da Stanford Encyclopedia of Philosophy na área de filosofia da cognição.

2021
Carvalho, E. M. (2021).  An Ecological Approach to Disjunctivism. Synthese. 198(Radical Views on Cognition), 285–306. Abstractan_ecological_approach_to_disjunctivism.pdfWebsite

In this paper I claim that perceptual discriminatory skills rely on a suitable type of environment as an enabling condition for their exercise. This is because of the constitutive connection between environment and perceptual discriminatory skills, inasmuch as such connection is construed from an ecological approach. The exercise of a discriminatory skill yields knowledge of affordances of objects, properties, or events in the surrounding environment. This is practical knowledge in the first-person perspective. An organism learns to perceive an object by becoming sensitized to its affordances. I call this position ecological disjunctivism. A corollary of this position is that a case of perception and its corresponding case of hallucination—which is similar to the former only in some respects—are different in nature. I show then how the distinguishability problem is addressed by ecological disjunctivism.

Carvalho, E. M. (2021).  Entrevista: "Eros Carvalho: Diálogos interdisciplinares urgentes". Ekstasis. 10(1), 157-183. AbstractWebsite

Entrevista com Eros Carvalho por Christiane Costa M. Fernandes, Deborah Moreira Guimarães, Taciane Alves da Silva e Fábio Candido dos Santos.

Carvalho, E. M. (2021).  The shared know-how in Linguistic Bodies. Revista Filosofia Unisinos. 22(1), 94-101. AbstractWebsite

The authors of Linguistic Bodies appeal to shared know-how to explain the social and participatory interactions upon which linguistic skills and agency rest. However, some issues lurk around the notion of shared know-how and require attention and clarification. In particular, one issue concerns the agent behind the shared know-how, a second one concerns whether shared know-how can be reducible to individual know-how or not. In this paper, I sustain that there is no single answer to the first issue; depending on the case, shared know-how can belong to the participants of a social activity or to the system the participants bring forth together. In relation to the second issue, I sustain, following the authors, a non-reductive account of shared know-how. I also suggest that responsiveness to others, which is a fundamental element of shared know-how, can be extended by perceptual learning.

Carvalho, E. M. (2021).  Teorias da Conspiração: por que algumas não valem um caracol. Perspectiva Filosófica. 48(2), 340-357. AbstractWebsite

Neste artigo, mapeio o terreno da discussão em torno das teorias da conspiração, destacando o problema de como defini-las, os fatores que levam à crença nas teorias da conspiração, os seus potenciais prejuízos e como devemos reagir a elas. Defendo que devemos avaliar as consequências da crença em uma teoria da conspiração para determinar se ela deve ser levada a serio ou não. Em bloco, as teorias da conspiração ameaçam a capacidade coletiva de produção de conhecimento e devemos nos preocupar com a sua difusão.

2020
Carvalho, E. M. (2020).  As humanidades e o uso adequado da ciência. Estado da Arte. , 06/05/2020 Abstract

Neste breve texto, discuto algumas características do conhecimento científico, em especial a incerteza envolvida no risco indutivo, que devem ser levadas em consideração quando aplicamos a ciência na solução de problemas sociais e no final vou esboçar algumas considerações sobre o uso adequado do conhecimento científico.

Carvalho, E. M., & Rolla G. (2020).  An enactive-ecological approach to information and uncertainty. Frontiers in Psychology. 11, 1-11. AbstractFrontiers in Psychology

Information is a central notion for cognitive sciences and neurosciences, but there is no agreement on what it means for a cognitive system to acquire information about its surroundings. In this paper, we approximate three influential views on information: the one at play in ecological psychology, which is sometimes called information for action; the notion of information as covariance as developed by some enactivists, and the idea of information as minimization of uncertainty as presented by Shannon. Our main thesis is that information for action can be construed as covariant information, and that learning to perceive covariant information is a matter of minimizing uncertainty through skilled performance. We argue that the agent’s cognitive system conveys information for acting in an environment by minimizing uncertainty about how to achieve her intended goals in that environment. We conclude by reviewing empirical findings that support our view and by showing how direct learning, seen as instance of ecological rationality at work, is how mere possibilities for action are turned into embodied know-how. Finally, we indicate the affinity between direct learning and sense-making activity.

Carvalho, E. M., & Rolla G. (2020).  O Desafio da Integração Explanatória para o Enativismo. Prometheus. 33, 161-181. AbstractWebsite

Enativismo é a família de teorias que interpretam a ação como constitutiva da cognição e que rejeitam a necessidade de postular representações para explicar todas as atividades cognitivas. O reconhecimento de um modo biologicamente básico e não representacional de cognição, no entanto, levanta a questão sobre como explicar atos cognitivos superiores ou complexos, o que chamamos de desafio de integração explanatória. Neste artigo, examinamos criticamente algumas tentativas de atender a esse desafio através do escalonamento ascendente (scale up) da cognição básica e do escalonamento descendente (scale down) da cognição complexa dentro do programa de pesquisa enativista.

Carvalho, E. (2020).  Sintonizando com o mundo: uma abordagem ecológica das habilidades sensoriomotoras. Ciência e Conhecimento. , Teresinha: Editora UFPI Abstract

Neste capítulo, apresento e sustento uma articulação da noção de habilidade corporal ou sensoriomotora a partir da psicologia ecológica e mostro como ela é relevante para o debate entre Dreyfus e McDowell sobre a lida habilidosa e também para o debate sobre se saber-fazer se reduz ou não a conhecimento proposicional. A metáfora correta para compreender habilidades corporais não é a do computador, mas a do rádio. Essas habilidades resultam de um processo de sintonização do organismo com o seu ambiente.

Carvalho, E. M. (2020).  Social Affordance. Encyclopedia of Animal Cognition and Behavior. , Cham: Springer Abstractsocial-affordance.pdf

A short entry on Social Affordances. Social affordances are possibilities for social interaction or possibilities for action that are shaped by social practices and norms.

Carvalho, E. M. (2020).  A tese da mente estendida à luz do externismo ativo: Como tornar Otto responsivo a razões?. Trans/Form/Ação. 43(3), 143-166. AbstractWebsite

The extended mind thesis claims that some mental states and cognitive processes extend onto the environment. Items external to the organism or exploratory actions may constitute in part mental states and cognitive processes. In Clark and Chalmers’ original paper, ‘The Extended Mind’, this thesis receives support from the parity principle and from the active externalism. In their paper, more emphasis is given to the parity principle, which is presented as neutral regarding the nature of cognition. It would be advantageous to maintain that extended mental states and processes do not require a reform of our pre-theoretical view of cognition. In the present paper, I submit that we should give more emphasis on the active externalism, which, I argue, is not neutral regarding the nature of cognition. Cognition is viewed as successful adaptation to a specific task. Although this move may seem at first disadvantageous, it is necessary for the correct understanding and justification of Otto case as an example of extended mental state. Additionally, the parity principle cannot handle Weiskopf’s criticism that information registered in Otto’s notebook is not responsive to reasons. In order to address this criticism, we need to appeal to active externalism and its corresponding view of cognition.

2019
Carvalho, E. (2019).  On the Nature of Hinge Commitments. Sképsis. X(19), 55-66. AbstractWebsite

This is a critical commentary on Pritchard's book Epistemic Angst. In Section 2, I present the closure-based radical skeptical paradox. Then in Section 3, I sketch Pritchard’s undercutting response to this paradox. Finally, in Section 4, I put forward two concerns about Pritchard’s response and I also propose a reading of hinge commitments, the ability reading, that might put some pressure on Pritchard’s own reading of these commitments.

Carvalho, E. (2019).  Socially Extending the Mind Through Social Affordances. Automata's Inner Movie: Science and Philosophy of Mind. , Delaware: Vernon Press Abstractcarvalho, E. Socially_extending_the_mind_through_social_affordances.pdf

The extended mind thesis claims that at least some cognitive processes extend beyond the organism’s brain in that they are constituted by the organism’s actions on its surrounding environment. A more radical move would be to claim that social actions performed by the organism could at least constitute some of its mental processes. This can be called the socially extended mind thesis. Based on the notion of affordance as developed in the ecological psychology tradition, I defend the view that perception extends to the environment. Then I will expand the notion of affordance to encompass social affordances. Thus, perception can in some situations also be socially extended.

2018
Carvalho, E. (2018).  Affordances Sociais e a Tese da Mente Estendida. Proceedings of the Brazilian Research Group on Epistemology: 2018. , Porto Alegre: Editora Fi Abstract

A tese da mente estendida alega que ao menos alguns processos cognitivos se estendem para além do cérebro do organismo no sentido de que eles são constituídos por ações realizadas por esse organismo no ambiente ao seu redor. Um movimento mais radical seria alegar que ações sociais realizadas pelo organismo poderiam, pelo menos, constituir alguns dos seus processos cognitivos. Isso pode ser chamando de tese da mente socialmente estendida. Baseando-me na noção de affordance tal como ela foi desenvolvida na tradição da psicologia ecológica, defendo que a percepção se estende ao meio ambiente. Então, apoiado no fenômeno da atenção conjunta, estendo a noção de affordance para incorporar affordances sociais. Assim, a percepção pode, em algumas situações, ser também estendida socialmente.

Carvalho, E. (2018).  A Ética da Crença: uma Defesa Moderada da Posição Indiciária. Sofia. 7(1), 17-40. AbstractWebsite

Neste artigo, articulo e critico os dois principais argumentos apresentados por Clifford em favor da norma de que é ilegítimo crer com base em evidência insuficiente. O primeiro argumento apela para o valor instrumental da crença, e o segundo apela para o nosso interesse intrínseco na verdade. Ambos os argumentos trazem à tona a relevância de fatores morais e sociais para a determinação de normas da crença. Eu sustento que o primeiro argumento é insuficiente para estabelecer a norma de Clifford em geral. Crenças que não são meios para ações ficam de fora do escopo do primeiro argumento. O segundo argumento tem um alcance mais abrangente. Contudo, ele pode ser bloqueado se o agente segue uma norma intelectualista que visa insular as crenças injustificadas do restante da sua vida cognitiva e ativa. É uma questão empírica se agentes humanos são capazes de seguir essa norma. Defendo uma reformulação da norma de Clifford, incluindo alguns parâmetros que influenciam a suficiência dos indícios. Por fim, fatores morais ou prudenciais podem afetar a legitimidade da crença. É legítimo crer sem indícios suficientes apenas em casos especiais, quando o agente insula a crença injustificada, ou quando o bem que advém da crença sobrepuja os malefícios da credulidade.

Carvalho, E. (2018).  Goodman e o projeto de uma definição construtiva de "indução válida". Principia: an international journal of epistemology. 22(3), 439-460. AbstractWebsite

In Fact, Fiction and Forecast, Nelson Goodman claims that the problem of justifying induction is not something over and above the problem of describing valid induction. Such claim seems to open up the possibility that the new riddle of induction could be addressed empirically. Discoveries about psychological preferences for projecting certain classes of objects could function as a criterion for determining which predicates are after all projectible. In this paper, I argue that Goodman's claim must be construed within his project for constructional definitions, which is methodologically oriented by reflective equilibrium. The description of inductive practice is committed to the articulation of the extension of the class selected by the predicate ‘valid induction’. The mutual adjustment between theoretical considerations and inductive practice involved in the proposal of a definition of ‘valid induction’ must preserve that practice as much as possible, there is no way to get rid of entrenchment. Empirical discoveries about the psychological mechanism that underlies projections may help that adjustment but they cannot substitute the role played by the entrenchment of predicates.

Carvalho, E. (2018).  Overcoming Intellectualism about Knowledge and Understanding: A Unified Approach. Logos & Episteme: An International Journal of Epistemology. 9(1), 7-26. AbstractWebsite

In this paper I defend a unified approach to knowledge and understanding. Both are achievements due to cognitive abilities or skills. The difference between them is a difference of aspects. Knowledge emphasizes the successful aspect of an achievement and the exclusion of epistemic luck, whereas understanding emphasizes the agent's contribution in bringing about an achievement through the exercise of one's cognitive skills. Knowledge and understanding cannot be separated. I argue against the claim that understanding is distinct from knowledge because the former is compatible with environmental luck. Achievements rule out environmental luck because abilities can be exercised only in their proper environment. I also reject the intellectualist claim that understanding requires the ability to explain what one intends to understand. The understanding of an item is reflected in our ability to solve cognitive tasks using that item. The more tasks one can deal with by using an item, the deeper is one's understanding of that item. Being able to explain why a claim holds is not necessary for possessing understanding, even though it may be necessary for accomplishing some very specific tasks. Neither understanding nor knowledge require any kind of second-order cognition by default.

2016
Carvalho, E. (2016).  An actionist approach to the justificational role of perceptual experience. Revista Portuguesa de Filosofia. 72((2-3)), 545-572. AbstractWebsite

In this paper, I defend an account of how perceptual experience can bear rational relation to our empirical thought. In the first part, I elaborate two claims that are central for the justificational role of perceptual experience, namely, the claim that perception and belief share the same kind of content, and the claim that perception is independent from belief. At first sight, these claims seems not to be compatible, since the first one seems to require the truth of content conceptualism, while the second one seems to require its falsity. In the second part, based on Alva Noë's actionist theory of perception, I argue in favor of a less intellectualist interpretation of the first claim, uncommitted to content conceptualism, and then I show how it can be reconciled with the second claim. Finally, I explain how perception holds rational relationships with our empirical thought through the exercise of observational concepts. These concepts link what I propose to call ‘space of actions’ to the logical space of reasons.

Carvalho, E., & Williges F. (2016).  Stroud, Austin, and Radical Skepticism. Sképsis. 57-75. AbstractWebsite

Is ruling out the possibility that one is dreaming a requirement for a knowledge claim? In “Philosophical Scepticism and Everyday Life” (1984), Barry Stroud defends that it is. In “Others Minds” (1970), John Austin says it is not. In his defense, Stroud appeals to a conception of objectivity deeply rooted in us and with which our concept of knowledge is intertwined. Austin appeals to a detailed account of our scientific and everyday practices of knowledge attribution. Stroud responds that what Austin says about those practices is correct in relation to the appropriateness of making knowledge claims, but that the skeptic is interested in the truth of those claims. In this paper, we argue that Stroud’s defense of the alleged requirement smuggles in a commitment to a kind of internalism, which asserts that the perceptual justification available to us can be characterized independently of the circumstances in which we find ourselves. In our reading of Austin, especially of Sense & Sensibilia, he rejects that kind of internalism by an implicit commitment to what is called today a “disjunctive” view of perception. Austin says that objectivity is an aspect of knowledge, and his disjunctivism is part of an explanation of why the alleged requirement is not necessary for a knowledge claim. Since both Stroud and Austin are committed to the objectivity of knowledge, Stroud may ask which view of perceptual knowledge is correct, whether the internalist or the disjunctive. We argue that by paying closer attention to what Austin says about our practices of knowledge attribution, one can see more clearly that it is grounded not only on a conception of objectivity, but also on a conception of ourselves as information agents, a conception that is as deeply rooted as that of the objectivity of knowledge. This gives us moral and practical reasons to favor the disjunctive view of perception.

2015
Carvalho, E. (2015).  O argumento da ilusão/alucinação e o disjuntivismo: Ayer vs. Austin. Sképsis. 85-107. AbstractWebsite

O argumento da ilusão/alucinação foi muitas vezes proposto para sustentar a conclusão forte de que estamos sempre percebendo diretamente dados dos sentidos. Em Sentido e Percepção, Austin defende que o argumento está apoiado sobre uma “massa de falácias sedutoras (verbais, na maior parte)”. Neste artigo, eu defendo que os movimentos argumentativos de Austin para desconstruir o argumento da ilusão são melhor compreendidos se vistos como decorrentes do seu comprometimento implícito com uma concepção disjuntivista da percepção. Seus apontamentos devem ser encarados como uma discussão aprofundada acerca de como conceber a percepção. Se a capacidade perceptiva for concebida disjuntivamente, o argumento da ilusão não prova nem mesmo a tese mais fraca de que algumas vezes percebemos dados dos sentidos. Em resposta ao Austin, Ayer alegou que a conclusão forte do argumento da ilusão pode ser sustentada pelo método da possibilidade de erro. Defendo que esse método isoladamente não sustenta essa conclusão e a disputa se volta para o conflito entre diferentes concepções da percepção. O argumento da ilusão é filosoficamente interessante por colocar em evidência o problema de como a capacidade perceptiva deve ser articulada e concebida. Embora questões de fato sejam relevantes, elas apenas não parecem decidir essa questão.

Carvalho, E., & Williges F. (2015).  Sosa on Animal Knowledge and Emotions. Analytica. 19(1), 143-160. AbstractWebsite

Our goal in this paper is to discuss the notion of animal knowledge in Judgment and Agency. Our approach has two stages. First, we offer a positive contribution, attempting to show that there is room for the introduction of emotions into an animal knowledge approach and into Sosa’s theory of competence. If we follow Sosa and conceive knowledge as a kind of action or successful performance, then emotions can contribute functionally for enhancing performance and are essential for the sharing of knowledge among social agents. Second, we offer criticism of Sosa’s integrative project. It’s not clear that reflective knowledge always improves animal knowledge; rather, in order to avoid regress, Sosa should recognize that we can have perfectly safe animal knowledge. Finally, we argue that reflective knowledge has a more marginal role than Sosa seems at first sight to suggest.

2014
Carvalho, E. (2014).  Internismo sem intelectualismo e reflexividade. Kriterion. 55(129), 153-172. AbstractWebsite

Em seu livro, “Perception as a Capacity for Knowledge” (2011), John McDowell defende que a garantia fornecida pela percepção é infalível. Para tanto, é preciso entender o papel que a razão tem na constituição de estados perceptivos genuínos. Por meio dela, posicionamos estes estados no espaço lógico das razões. Assim, não só fazemos do estado perceptivo um episódio de conhecimento, mas também obtemos conhecimento de como chegamos a este conhecimento. McDowell sustenta que esta condição para o conhecimento, a posse da capacidade de posicionar um estado perceptivo no espaço lógico das razões, não o compromete com o intelectualismo. Neste artigo, defendo que o internismo de McDowell não está totalmente livre do intelectualismo e que o internismo é mais plausível não só sem intelectualismo,
mas também sem reflexividade.

2013
Carvalho, E. (2013).  Goodman e o equilíbrio reflexivo. Veritas. 58(3), 467-481. AbstractWebsite

Goodman sustentou que o ajuste mútuo entre inferências indutivas particulares e princípios indutivos constitui a única justificação necessária para ambos. Porém, a sua caracterização deste ajuste, posteriormente denominado de equilíbrio reflexivo, foi superficial. Isto levantou dúvida sobre a sua adequação. Este artigo, argumento que o equilíbrio reflexivo, corretamente caracterizado, fornece a única justificação necessária e a melhor que podemos dar para a prática indutiva.

Carvalho, E. (2013).  Kuhn e a racionalidade da escolha científica. Principia. 17(3), 439-458. AbstractWebsite

In this paper, I try to articulate and clarify the role of the epistemic authority of experts in Kuhn’s explanation for the transition process between rival paradigms in the scientific revolutionary period. If science progresses, that process should contribute to the attainment of the cognitive aim of science, namely, the articulation of paradigms increasingly successful at the resolution of problems. It is hard to see that process as rational and as attaining the cognitive aim of science without the consideration of epistemic authority.The mistake of Kuhn was to emphasize and clarify insufficiently the role of the epistemic authority of experts; his critics failed for ignoring it altogether

2011
Carvalho, E. (2011).  Popper e o problema da predição prática. Analytica. 15(2), 123-146. AbstractPopper e o problema da predição prática

O problema da predição racional, lançado por Wesley Salmon, é sem dúvida o calcanhar de Aquiles do método crítico preconizado por Popper. Neste artigo, avalio a resposta que tanto Popper quanto o popperiano Alan Musgrave deram a este problema. Ambas as respostas são inadequadas e, assim, a conclusão de Salmon é reforçada: sem apelar à indução, não há como fazer da predição prática uma ação racional. Além disso, o método crítico precisa ser vindicado se se pretende que a sua aplicação seja adequada para a preferência de hipóteses. Argumento que a natureza desta vindicação é tal que ela também pode ser aplicada à indução. Assim, ser um popperiano é uma boa razão para ser também um indutivista.

Bensusan, H., & Carvalho E. (2011).  Qualia Qua Qualitons: Mental Qualities as Abstract Particulars. Acta Analytica. 26(2), 155-163. AbstractQualia qua Qualitons

In this paper we advocate the thesis that qualia are tropes (or qualitons), and not (universal) properties. The main advantage of the thesis is that we can accept both the Wittgensteinian and Sellarsian assault on the given and the claim that only subjective and private states can do justice to the qualitative character of experience. We hint that if we take qualia to be tropes, we dissolve the problem of inverted qualia. We develop an account of sensory concept acquisition that takes the presence of qualia as an enabling condition for learning. We argue that qualia taken to be qualitons are part of our mechanism of sensory concept acquisition.

2010
Carvalho, E. (2010).  Figuras ambíguas e a distinção entre ver e ver como. Ensaios de Epistemologia Contemporânea. , Ijuí: Editora Unijuí Abstract

As figuras ambíguas geralmente são arroladas em favor da tese de que o conteúdo da experiência perceptiva sofre influência cognitiva. Neste artigo, defenderei que as figuras ambíguas não são suficientes para evidenciar esta tese. O fenômeno das figuras ambíguas pode ser explicado por uma teoria da percepção segundo a qual o conteúdo da experiência perceptiva não sofre influência cognitiva. Ou seja, o fenômeno das figuras ambíguas isoladamente não implica esta ou aquela teoria perceptiva, muito embora seja um fenômeno que qualquer teoria da percepção tenha de acomodar. Inicialmente, apresentarei a teoria da percepção de Pylyshyn para, em seguida, usá-la na explicação do fenômeno das figuras ambíguas.

2009
Carvalho, E. (2009).  Crenças justificadas não-inferencialmente e o mito do dado. Princípios. 16(25), 231-263. AbstractCrenças justificadas não-inferencialmente e o mito do dado

O objetivo deste artigo é apresentar uma explicação de como a experiência perceptiva cumpre o seu papel de justificação. A ideia é que a experiência perceptiva justifica não-inferencialmente crenças empíricas, em uma acepção internalista da justificação. Contra Sellars, quero poder dizer que S se baseia na sua experiência para crer que o mundo é assim e assim. Para discutir esta questão, elegi a argumentação de Brewer e McDowell. Ambos defendem que a experiência pode justificar crenças, desde que ela tenha um conteúdo conceitual. Mas defenderei que não há essa necessidade. O conteúdo pode ser não-conceitual e mesmo assim a experiência pode justificar crenças não-inferencialmente. Tentarei explicar como isso é possível e, ao final, avaliarei a minha abordagem diante da acusação de Sellars de que o empirismo assume uma tríade de teses inconsistentes. Reformularei estas teses em conformidade com a abordagem defendida e concluirei que a presente versão do empirismo está isenta das críticas de Sellars.

2008
Carvalho, E. (2008).  Algumas Luz para o Fundacionismo?. Philosophos. 13(1), 35-65. AbstractWebsite

The foundationalist needs to deal with two fundamental problems: (i) to explain how a justificator grants justification without itself need justification and (ii) to determine the justificator’s epistemic status. Burdzinski (Burdzinski 2007), following Sellars and Bonjour, argues that the perceptive experience could not be a response to the first problem, because if its content was not propositional it would not grant justification and if its content was propositional it would grant justification and would require justification. My proposal is that perceptual experience justifies in virtue of its representational nature. The act of taking the content of a perception by its face value is justified until there is a reason to the contrary, ie, this act is prima facie justified. This forces us to answer the second problem by saying that the basic justificator is not infallible. This falibilist response dislike the skeptic, but it is the best foundationalist answer to epistemic regress.