Carvalho, E. M.
(2024).
Valores na Ciência e a perspectiva ecológica do conhecimento científico.
Ciência: epistemologia e ensino. , Rio de Janeiro: Editora do PPG Filosofia da UFRRJ
AbstractA ideia de que a ciência — ou ao menos as atividades científicas que são consideradas as mais essenciais para a ciência — deve ser livre de valores é bastante difundida. Neste capítulo, vou discutir essa tese, normalmente entendida como um ideal de ciência. Na primeira seção, introduzo alguns conceitos e distinções que são importantes para entender essa tese, como a diferença entre valores cognitivos e não-cognitivos. Na segunda seção, discuto o papel dos valores na seleção de problemas e na metodologia científica. Na terceira seção, apresento dois argumentos canônicos contra o ideal da ciência como livre de valores: o argumento da lacuna explicativa, de Helen Longino (1990), e o argumento do risco indutivo, de Heather Douglas (2009). Na quarta seção, discuto algumas respostas a esses argumentos. Por fim, na última seção, a partir da abordagem ecológica, exploro e sustendo a ideia de que a reconcepção da ciência como uma atividade social situada e adaptativa supera a dicotomia entre fato e valor que subjaz a discussão. Essa nova concepção de ciência nos permite acomodar melhor os resultados dos argumentos apresentados na terceira seção.
Carvalho, E.
(2022).
A abordagem ecológica das habilidades e a epistemologia dos eixos.
Epistemologia dos eixos: interpretações e debates sobre as (in)certezas de Wittgenstein. , Porto Alegre: Editora Fênix
AbstractNeste texto, discuto a interpretação defendida por Moyal-Sharrock, segundo a qual as proposições eixo são maneiras de agir com o objetivo de oferecer uma proposta sobre como compreendê-las. Sustento que a posição de Moyal-Sharrock deixa algumas lacunas, porque não explica a origem das nossas certezas fundamentais. A sua leitura também carece de recursos para responder ao problema da demarcação, uma vez que não é claro como distinguir maneiras de agir que podem legitimamente cumprir o papel de fundamento não fundamentado das que não podem. Sem uma resposta para esse problema, a ameaça relativista é séria. Proponho, então, que as proposições eixo são maneiras de agir constitutivas de habilidades. Desenvolvo também uma abordagem ecológica das habilidades, a qual me possibilita explicar por que habilidades são embebidas-de-realidade e, por conseguinte, por que as maneiras de agir que as constituem são fundamentos não fundamentados legítimos. Com base nessa abordagem, ofereço uma resposta para o problema da demarcação que afasta a ameaça relativista.
Carvalho, E. M.
(2022).
Epistemologia da Percepção.
Compêndio de Epistemologia . , Porto Alegre: Editora Fi
AbstractTomamos como certo que os nossos sentidos nos colocam em contato com o ambiente ao nosso redor. Enquanto caminhamos em uma rua, vemos obstáculos que temos de contornar ou remover. Mesmo de costas, podemos ouvir a bicicleta que se aproxima e dar passagem. Em suma, por meio de experiências perceptivas (visuais, auditivas, olfativas etc.), ficamos conscientes de objetos ou eventos que estejam ocorrendo ao nosso redor. Além disso, com base no que percebemos, podemos formar e manter crenças acerca do ambiente e, assim, adquirir conhecimento perceptivo acerca do mundo. A importância desse conhecimento acerca do que está ao nosso alcance perceptivo é inestimável para a nossa sobrevivência e a condução de nossos projetos cotidianos. Contudo, podemos querer saber (1) se de fato temos acesso ao mundo físico circundante por meio das nossas experiências perceptivas, e (2) se e como essas experiências justificam as nossas crenças acerca do que percebemos. Esses problemas são centrais para a epistemologia da percepção, embora não sejam os únicos. Nessa entrada, abordaremos esses dois problemas.
Carvalho, E. M.
(2022).
Ética da Crença.
Compêndio de Epistemologia . , Porto Alegre: Editora Fi
AbstractHá pelo menos três modos pelos quais o debate sobre a conduta doxástica se relaciona com a ética. O primeiro e menos contencioso assinala que o ato de crer, analogamente às ações morais, responde a um tipo de normatividade, não necessariamente moral. Por exemplo, as normas para o ato de crer podem ser puramente epistêmicas. Nesse caso, essas normas diriam respeito a como o agente deve visar ou buscar a verdade. O segundo modo como o debate da ética da crença se relaciona com a ética diz respeito à fundamentação das normas para crer. A ideia é que a adoção dessas normas se fundamenta com base em razões morais e sociais. Por fim, o modo mais substancial consiste em sustentar que o ato de crer, ao menos em alguns casos, é em parte um fenômeno essencialmente moral e que, portanto, razões morais incidem diretamente sobre a legitimidade da crença. Por razões morais, alguém poderia ser recriminado por sustentar uma crença ainda que tivesse evidência favorável para ela. Neste verbete, tangenciando o clássico debate entre Clifford e William James e reações mais contemporâneas ao debate, apresentaremos e discutiremos cada um desses aspectos da ética da crença.
Carvalho, E. M.
(2022).
Psicologia Ecológica: da percepção à cognição social.
Escritos de Filosofia V: Linguagem e Cognição. , Porto Alegre: Editora Fi
AbstractTexto introdutório à abordagem ecológica da percepção que será publicado na coletânea Escritos de Filosofia V: Linguagem e Cognição, Grupo Linguagem e Cognição (UFAL/CNPq).
Neste texto, apresento e examino as principais ideias que animam a abordagem ecológica da percepção. Primeiro, na Seção 2, apresento a visão instantânea da percepção, contra a qual Gibson articula e propõe a abordagem ecológica. Em seguida, não Seção 3, apresento e discuto a noção de informação ecológica. Nas seções 4 e 5 articulo a teoria das affordances e discuto a aprendizagem perceptiva. Por fim, na Seção 6, exponho e discuto a possibilidade de estender a teoria das affordances para explicar a cognição social.
Carvalho, E.
(2020).
Sintonizando com o mundo: uma abordagem ecológica das habilidades sensoriomotoras.
Ciência e Conhecimento. , Teresinha: Editora UFPI
AbstractNeste capítulo, apresento e sustento uma articulação da noção de habilidade corporal ou sensoriomotora a partir da psicologia ecológica e mostro como ela é relevante para o debate entre Dreyfus e McDowell sobre a lida habilidosa e também para o debate sobre se saber-fazer se reduz ou não a conhecimento proposicional. A metáfora correta para compreender habilidades corporais não é a do computador, mas a do rádio. Essas habilidades resultam de um processo de sintonização do organismo com o seu ambiente.
Carvalho, E.
(2018).
Affordances Sociais e a Tese da Mente Estendida.
Proceedings of the Brazilian Research Group on Epistemology: 2018. , Porto Alegre: Editora Fi
AbstractA tese da mente estendida alega que ao menos alguns processos cognitivos se estendem para além do cérebro do organismo no sentido de que eles são constituídos por ações realizadas por esse organismo no ambiente ao seu redor. Um movimento mais radical seria alegar que ações sociais realizadas pelo organismo poderiam, pelo menos, constituir alguns dos seus processos cognitivos. Isso pode ser chamando de tese da mente socialmente estendida. Baseando-me na noção de affordance tal como ela foi desenvolvida na tradição da psicologia ecológica, defendo que a percepção se estende ao meio ambiente. Então, apoiado no fenômeno da atenção conjunta, estendo a noção de affordance para incorporar affordances sociais. Assim, a percepção pode, em algumas situações, ser também estendida socialmente.