A urbanização brasileira

O estudo da questão urbana permeia grande parte dos esforços de Milton Santos. Uma visão mais completa sobre estes esforços pode ser encontrada em "A análise urbana na obra de Milton Santos", artigo de Maria Encarnação Beltrão Spósito publicado em 1999 no Caderno Prudentino de Geografia.

No resumo, Spósito (1999) menciona: "Esse texto tem como objetivo apresentar um painel de parte da obra de Milton Santos. Sua extensão não nos permitiria uma análise de todo seu conjunto, pois para diferentes especializações do conhecimento no interior da Geografia esse autor apresentou contribuições significativas, além daquelas mais profundas de natureza teórico-metodológica, e outras cujo caráter amplo e inovador permite um diálogo profícuo entre esse intelectual e outros que constroem seu pensamento a partir de outras matrizes disciplinares."

Vejamos agora alguns trechos do próprio Milton Santos que permitem sentir a grandeza dessa contribuição.

Na obra "A urbanização brasileira" (SANTOS, 1993a) há o capítulo "A organização interna das cidades: a cidade caótica" (SANTOS, 1993b). Ali, o autor vai tratar da forma como elas funcionam por dentro e sobretudo como vive a maioria de sua população:

"Com diferença de grau e de intensidade, todas as cidades brasileiras exibem problemáticas parecidas. O seu tamanho, tipo de atividade, região em que se inserem etc. São elementos de diferenciação, mas em todos elas problemas como os do emprego, da habitação, dos transportes, do lazer, da água, dos esgotos, da educação e saúde, são genéricos e revelam enormes carências. Quanto maior a cidade, mais visíveis se tornam essas mazelas. Mas essas chagas estão em toda parte. Isso era menos verdade na primeira metade deste século, mas a urbanização corporativa, isto é, empreendida sob o comando dos interesses das grandes firmas, constitui um receptáculo das conseqüências de uma expansão capitalista devorante dos recursos públicos, uma vez que estes são orientados para os investimentos econômicos, em detrimento dos gastos sociais." (SANTOS, 1993b, p. 95) 

Em seguida podemos aprofundar os mecanismos que operam a produção do espaço nas cidades, no capítulo "A urbanização e a cidade corporativas" (SANTOS, 1993c, p. 111):

"Desse modo, o processo de urbanização corporativa se impõe à vida urbana como um todo, mas como processo contraditório opondo parcelas da cidade, frações da população, formas concretas de produção, modos de vida, comportamentos. Há oposição e complementaridade, mas os aspectos corporativos da vida urbana tendem a prevalecer sobre as formas precedentes das relações externas e internas da cidade, mesmo quando essas formas prévias, chamadas tradicionais, de realização econômica e social, interessam a população mais numerosa e a áreas mais vastas. A lógica dominante, entretanto, é, agora, a da urbanização corporativa e a da cidade corporativa."

Referências

SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. São Paulo: HUCITEC, 1993a. Disponível em: https://professor.ufrgs.br/dagnino/files/santos_milton_a_urbanizacao_brasileira_1993.pdf

SANTOS, Milton. A organização interna das cidades: a cidade caótica. In: SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. São Paulo: HUCITEC, 1993b. (p. 95-97). Disponível em: https://professor.ufrgs.br/dagnino/files/santos_milton_a_urbanizacao_brasileira_1993.pdf

SANTOS, Milton. A urbanização e a cidade corporativas. In: SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. São Paulo: HUCITEC, 1993c. (p. 99-115). Disponível em: https://professor.ufrgs.br/dagnino/files/santos_milton_a_urbanizacao_brasileira_1993.pdf

SPÓSITO, Maria Encarnação Beltrão. A análise urbana na obra de Milton Santos. Caderno Prudentino de Geografia, v. 1, n. 21, 1999. ISSN: 2176-5774. https://revista.fct.unesp.br/index.php/cpg/article/view/7262

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