Por Ricardo Dagnino - 2020
Editorial do Estadão de 22/10/2020 trata dos temas ensino superior, mercado de trabalho e desemprego no Brasil e apresenta os cursos de graduação interdisciplinares como alternativas ao enfrentamento desse cenário.
O texto do editorial inicia com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o mercado de trabalho apontando para os elevados números de desempregados e de trabalhadores na informalidade:
Os últimos números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua revelaram que a taxa geral de desemprego foi de 13,3% no segundo trimestre de 2020, atingindo 12,8 milhões de pessoas. É um número muito alto, para um país que já tem um contingente de 32 milhões de trabalhadores informais, que atuam por conta própria e sem carteira assinada.
A situação é ainda mais preocupante entre os jovens de 18 a 24 anos, pois a taxa de desemprego ficou em 29,7% – ante 25,8% no mesmo período em 2019. Outra faixa etária muito afetada pelo aumento do desemprego foi a dos 25 aos 39 anos, atualmente com 35,3% de desocupados. Entre os diferentes problemas acarretados por esse avanço do desemprego, dois merecem atenção.
A partir dessa rápida análise, o texto vai na direção de abordar o desemprego de jovens, principalmente os jovens recém-graduados, egressos da instituições de ensino superior brasileiras:
No caso dos jovens de 18 a 24 anos, muitos recém-graduados fizeram cursos superiores tradicionais, cujos currículos estão desconectados das tecnologias advindas com a Indústria 4.0. Por isso, em plena pandemia eles têm sido obrigados a buscar empregos sem a devida formação, num período em que as vagas disponíveis exigem habilidades específicas. Esse é o motivo pelo qual cerca de 50% dos brasileiros com graduação completa estão trabalhando em atividades que não exigem formação superior, como mostra o IBGE. E, apesar de as autoridades educacionais terem consciência desse problema há tempos, pouco têm feito para reformular a educação superior, que em muitas áreas continua carente de cursos interdisciplinares.
Atualmente, os cursos de graduação duram de quatro a cinco anos e são divididos em áreas tradicionais, como ciências exatas, biomédicas e humanas. De um modo geral, o primeiro ano é dedicado às disciplinas propedêuticas. O segundo é destinado às chamadas teorias gerais. O terceiro é voltado ao aprofundamento do nível de formação técnica. E os dois últimos envolvem a opção por áreas de especialização e a busca por estágios e postos de trainee.
O problema é que, como as mudanças tecnológicas ocorrem em ciclos temporais cada vez mais curtos, quando os estudantes ingressam num curso superior a tecnologia predominante é uma. Já quando se formam, ela é outra, o que os leva a se diplomar com uma formação tecnológica defasada. Dito de outro modo, quando fizeram o vestibular, depois de concluir um ensino médio com currículo ultrapassado, optaram por um cenário de mercado profissional que já não existe no ano em que se formam.
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