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Ricardo de Sampaio Dagnino
Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Campus Litoral Norte
Tramandaí, 2019. - Revisado em abril de 2023
Esta é uma compilação de ideias e trabalhos sobre interdisciplinaridade no Brasil e no mundo. Este material organizado para fins didáticos educativos objetivando resgatar textos relevantes e está em constante atualização e revisão. Para maiores informações visite: https://professor.ufrgs.br/dagnino/documents
1. Qual interdisciplinaridade?
2. Proposta de reforma do ensino superior da Academia Brasileira de Ciências (2004)
3. Cursos interdisciplinares no enfrentamento ao desemprego
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Os últimos números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua revelaram que a taxa geral de desemprego foi de 13,3% no segundo trimestre de 2020, atingindo 12,8 milhões de pessoas. É um número muito alto, para um país que já tem um contingente de 32 milhões de trabalhadores informais, que atuam por conta própria e sem carteira assinada.A situação é ainda mais preocupante entre os jovens de 18 a 24 anos, pois a taxa de desemprego ficou em 29,7% – ante 25,8% no mesmo período em 2019. Outra faixa etária muito afetada pelo aumento do desemprego foi a dos 25 aos 39 anos, atualmente com 35,3% de desocupados. Entre os diferentes problemas acarretados por esse avanço do desemprego, dois merecem atenção.
No caso dos jovens de 18 a 24 anos, muitos recém-graduados fizeram cursos superiores tradicionais, cujos currículos estão desconectados das tecnologias advindas com a Indústria 4.0. Por isso, em plena pandemia eles têm sido obrigados a buscar empregos sem a devida formação, num período em que as vagas disponíveis exigem habilidades específicas. Esse é o motivo pelo qual cerca de 50% dos brasileiros com graduação completa estão trabalhando em atividades que não exigem formação superior, como mostra o IBGE. E, apesar de as autoridades educacionais terem consciência desse problema há tempos, pouco têm feito para reformular a educação superior, que em muitas áreas continua carente de cursos interdisciplinares.Atualmente, os cursos de graduação duram de quatro a cinco anos e são divididos em áreas tradicionais, como ciências exatas, biomédicas e humanas. De um modo geral, o primeiro ano é dedicado às disciplinas propedêuticas. O segundo é destinado às chamadas teorias gerais. O terceiro é voltado ao aprofundamento do nível de formação técnica. E os dois últimos envolvem a opção por áreas de especialização e a busca por estágios e postos de trainee.O problema é que, como as mudanças tecnológicas ocorrem em ciclos temporais cada vez mais curtos, quando os estudantes ingressam num curso superior a tecnologia predominante é uma. Já quando se formam, ela é outra, o que os leva a se diplomar com uma formação tecnológica defasada. Dito de outro modo, quando fizeram o vestibular, depois de concluir um ensino médio com currículo ultrapassado, optaram por um cenário de mercado profissional que já não existe no ano em que se formam.
Em 2004, um grupo de cientistas de diversas áreas, ligados à Academia Brasileira de Ciências reuniram-se para redigir o documento que ficou conhecido como "Subsídios para a reforma do ensino superior" (CHAVES et al., 2004). Nesse documento foi defendida a ideia de reformulação do ensino superior com base na ideia de interdisciplinaridade.
A equipe também elaborou uma apresentação (CHAVES, 2004b) que foi apresentada na Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior no Brasil (Andifes):
Figura 1: Capa da apresentação
Fonte: Chaves (2004b)
Figura 2: Novos paradigmas curriculares para o desenvolvimento e inclusão social: Slide 3
Fonte: Chaves (2004b)
Os cientistas partem de algumas constatações como a seguinte, que contribuíram para consolidar o que chama de "Manifesto de Angra":
"A principal função da universidade continua sendo a formação de pessoal. Cumpri-la a contento, frente ao crescimento explosivo da inovação tecnológica e ao caráter cada vez mais interdisciplinar dos avanços no conhecimento, requer uma revisão profunda das metodologias tradicionais de ensino." (CHAVES et al., 2004a, p. 3)
A defesa pela interdisciplinaridade fica evidente quando menciona:
"A formação mais especializada pode tornar-se rapidamente obsoleta. O profissional com formação mais científica e interdisciplinar se adapta facilmente a mercados de trabalho altamente instáveis." (CHAVES et al., 2004a, p. 13)
Por fim a proposta pode ser resumida no item "Uma proposta para o Brasil: ingresso por três grandes áreas, e cursos compostos de ciclos curtos" (CHAVES et al., 2004a, p. 14) onde se lê:
"Propomos que os cursos universitários sejam compostos de ciclos de curta duração. A duração de cada ciclo deverá levar em consideração e respeitar a especificidade de cada área de conhecimento. É salutar que haja uma diversidade de modelos e flexibilidade na implementação dessa política. Os alunos serão selecionados para ingresso em uma de três grandes áreas, Ciências Básicas e Engenharia (CBE), Ciências da Vida (CV) e Humanidades, Artes e Ciências Sociais (HACS), sem terem de declarar sua opção preliminar de carreira. Haverá um Ciclo Básico comum para cada grande área, que visará o domínio de fundamentos gerais e seminais da grande área e terá abrangência interdisciplinar."Referências:
CHAVES, A. S.; FILHO, C. A. A. de C.; BARRETO, F. C. de S.; VELHO, G. C. A.; JORNADA, J. A. H da.; BEVILACQUA, L.; DAVIDOVCH, L.; NUSSENZVEI, M.; GATTASS, R. Subsídios para a reforma do ensino superior. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências, 2004a. 40 p.
Disponível em: https://professor.ufrgs.br/dagnino/files/abc_2004_reforma_da_educacao_superior_texto.pdf
Originalmente em: www.abc.org.br/IMG/pdf/doc-29.pdf
Também disponível: http://flacso.org.br/?publication=subsidios-para-a-reforma-da-educacao-superior
CHAVES, A. S.; FILHO, C. A. A. de C.; BARRETO, F. C. de S.; VELHO, G. C. A.; JORNADA, J. A. H da.; BEVILACQUA, L.; DAVIDOVCH, L.; NUSSENZVEI, M.; GATTASS, R. Subsídios para a reforma do ensino superior - Apresentação. Brasília: Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior no Brasil (Andifes), 2004b. 40 p.
Foi lançado o livro Qual interdisciplinaridade está em jogo? Debates sobre processos comunicacionais e educativos, organizado por Arthur Autran e Thales de Andrade.
O livro apresenta capítulos que foram avaliados e revisados por pares e traz ao leitor os mais recentes debates sobre interdisciplinaridade no Brasil (AUTRAN; ANDRADE, 2023).
Ilustração: capa do livro
Fonte: Site da editora Pontes - Disponível em: https://www.ponteseditores.com.br/loja/index.php?route=product%2Fproduct&product_id=1887
Introdução
QUAL INTERDISCIPLINARIDADE ESTÁ EM JOGO? DEBATES SOBRE PROCESSOS COMUNICACIONAIS E EDUCATIVOS - Thales de Andrade, Arthur Autran
Seção I: Dilemas Atuais da Interdisciplinaridade
INTERDISCIPLINARIDADES E CONST RUÇÕES DE NOVOS MUNDOS COMUNS - Ivan da Costa Marques
QUAL INTERDISCIPLINARIDADE QUEREMOS? UMA AGENDA TECNOCIENTÍFICA SOLIDÁRIA - Renato Dagnino
INTERDISCIPLINARIDADE NA PESQUISA SOBRE MUDANÇA CLIMÁTICA: O CASO DO INCT-MC FASE 2 - Julia S. Guivant, Matheus Britto Froner
Seção Il: Práticas Educacionais Interdisciplinares
PROGRAMA SoFiA: INTERDISCIPLINARIDADE E ESTUDOS CTS NA CONEXÃO DE TERRITÓRIOS E SABERES NO ESPAÇO ESCOLAR - Bráulio Silva Chaves, Cláudia Gomes França
INTERDISCIPLINARIDADE E EDUCAÇÃO CTS: COLONIALIDADE, SUSTENTABILIDADE E EMANCIPAÇÃO - Irlan von Linsingen
DOCUMENTÁRIO E DIFUSÃO DO CONHECIMENTO: DUAS EXPERIÊNCIAS - Arthur Autran, Joyce Felipe Cury
Seção III: Mídias Sonoras e Divulgação Científica
CIÊNCIA PARA OUVIR: O POTENCIAL DAS MÍDIAS SONORAS PARA A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA - Luciane Ribeiro do Valle
COMUNICAÇÃO PÚBLICA DA CIÊNCIA EM(TRE) TEMPOS DE PANDEMIA - Mariana Rodrigues Pezzo, Tárcio Minto Fabrício
Seção IV: Ciências, Tecnologia e Interdisciplinaridade nos Processos Audiovisuais
UMA INTERDISCIPLINARIDADE DO ESPÍRITO JEAN ROUCH E O SEU OLHAR SOBRE O OUTRO - Philippe Lourdou, Marcius Freire
NOÇÕES ECOFEMINISTAS EMERGENTES NA ANIMAÇÃO ABUELA GRILLO: O CINEMA COMO PALCO PARA ALIANÇAS INESPERADAS - Lígia Amoroso Galbiati, Janaína Welle
CINEMA NOVO NO FESTIVAL DE CANNES (1963-1964): TECNOLOGIA E O PADRÃO DE QUALIDADE - Belisa Figueiró
AUTRAN, Arthur; ANDRADE, Thales de (orgs.). Qual interdisciplinaridade está em jogo? Debates sobre processos comunicacionais e educativos. 1. ed.– Campinas, SP : Pontes Editores, 2023. E-Book: 7 Mb; PDF. Inclui bibliografia. ISBN: 978-65-5637-672-1. Site da editora: https://www.ponteseditores.com.br/loja/index.php?route=product%2Fproduct&product_id=1887
PDF para download em: https://professor.ufrgs.br/dagnino/files/livro_qual_interdisciplinaridade_esta_em_jogo.pdf