Espaço do cidadão


O livro "O espaço do cidadão" (SANTOS, 2007; SILVA et al., 2011a) é uma referência muito importante.

Na rede mundial de computadores (www) existem duas versões da obra: a primeira versão é a que foi publicada como livro pela Editora da Universidade de São Paulo (SANTOS, 2007) e a outra versão é uma compilação organizada por Elisiane da Silva, Gervásio Neves e Liana Martins e publicada pela Fundação Ulysses Guimarães (SILVA et al., 2011a).

Sugiro uma atenção especial para a Introdução (SANTOS, 2011b, p. 80-81) na qual ele menciona que a cultura e o território são os dois componentes essenciais sobre o qual o modelo cívico se forma. 

Conforme Milton Santos (2011b, p. 80-81):

"O modelo cívico forma-se, entre outros, de dois componentes essenciais: a cultura e o território. O componente cívico supõe a definição prévia de uma civilização, isto é a civilização que se quer, o modo de vida que se deseja para todos, uma visão comum do mundo e da sociedade, do indivíduo enquanto ser social e das suas regras de convivência. Para ficarmos apenas com um exemplo, a atribuição do chamado salário-mínimo, isto é, da quantidade mínima de dinheiro capaz de assegurar uma vida decente para cada qual e sua família, não pode ser estabelecida em função dos simples mandamentos da “economia”, mas da cultura. Quando aceitamos que sejam pagos salários de fome a uma boa parte da população, é certo que estamos longe de possuir uma verdadeira cultura. O componente territorial supõe, de um lado, uma instrumentação do território capaz de atribuir a todos os habitantes aqueles bens e serviços indispensáveis, não importa onde esteja a pessoa; e de outro lado, uma adequada gestão do território, pela qual a distribuição geral dos bens e serviços públicos seja assegurada." (SANTOS, 2011b, p. 80-81)
No capítulo "Há cidadãos neste país?" (SANTOS, 2011c, p. 82-83) ele fala sobre cidadania, direitos e as formas para garanti-los, incluída a luta simbolizada no "direito de reclamar e ser ouvido":
"A cidadania, sem dúvida, se aprende. É assim que ela se torna um estado de espírito, enraizado na cultura. É, talvez, nesse sentido, que se costuma dizer que a liberdade não é uma dádiva, mas uma conquista, uma conquista a manter. Ameaçada por um cotidiano implacável, não basta à cidadania ser um estado de espírito ou uma declaração de intenções. Ela tem o seu corpo e os seus limites como uma situação social, jurídica e política. Para ser mantida pelas gerações sucessivas, para ter eficácia e ser fonte de direitos, ela deve se inscrever na própria letra das leis, mediante dispositivos institucionais que assegurem a fruição das prerrogativas pactuadas e, sempre que haja recusa, o direito de reclamar e ser ouvido." (SANTOS, 2011c, p. 82-83)
No capítulo "O cidadão mutilado" (SANTOS, 2011d, p. 94) são apresentadas as diferentes formas de vida não cidadãs:
"É extensa a tipologia das formas de vida não cidadãs, desde a retirada, direta ou indireta, dos direitos civis à maioria da população, às fórmulas eleitorais engendradas para enviesar a manifestação da vontade popular, ao abandono de cada um à sua própria sorte." (SANTOS, 2011d, p. 94)
Mais para o final do livro, o capítulo "O espaço sem cidadãos” (SANTOS, 2011e, p. 119) enfoca questões como: o direito de morar, e sua distinção com o direito de ser proprietário; os pobres e a cidade corporativa; o direito ao entorno, exemplificado na forma de um ambiente saudável e ar puro, entre outros.
Neste capítulo fica evidente a relação entre a condição de vida dos mais pobres da cidade e o poder político (SANTOS, 2011e, p. 126):
"O resultado de todos esses agravos é um espaço empobrecido e que também se empobrece: material, social, política, cultural e moralmente. Diante de tantos abusos, o cidadão se torna impotente, a começar pelas distorções da representação política. A quem pode um candidato a cidadão recorrer para pedir que faça valer o seu direito ao entorno, propondo um novo corpo de leis, decretos e regulamentos, ou velando pelo cumprimento da legislação já existente mas desobedecida? A própria existência vivida mostra a cada qual que o espaço em que vivemos é, na realidade, um espaço sem cidadãos.” (SANTOS, 2011e, p. 126)
Feitas essas leituras sobre espaço e cidadania, é hora de avançar na abordagem da cidade.

Referências

SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007. https://professor.ufrgs.br/dagnino/files/santos_milton_espaco_do_cidadao_2007.pdf

SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. In: SILVA, Elisiane; NEVES, Gervásio; MARTINS, Liana. Milton Santos: O espaço da cidadania e outras reflexões. Porto Alegre: Fundação Ulysses Guimarães, 2011a. Disponível em: https://professor.ufrgs.br/dagnino/files/santos_milton_espaco_da_cidadania_2011.pdf

SANTOS, Milton. Introdução. In: SILVA, Elisiane; NEVES, Gervásio; MARTINS, Liana. Milton Santos: O espaço da cidadania e outras reflexões. Porto Alegre: Fundação Ulysses Guimarães, 2011b. (p. 78-81). Disponível em: https://professor.ufrgs.br/dagnino/files/santos_milton_espaco_da_cidadania_2011.pdf

SANTOS, Milton. Há cidadãos neste país? In: SILVA, Elisiane; NEVES, Gervásio; MARTINS, Liana. Milton Santos: O espaço da cidadania e outras reflexões. Porto Alegre: Fundação Ulysses Guimarães, 2011c. (p. 82-94) Disponível em: https://professor.ufrgs.br/dagnino/files/santos_milton_espaco_da_cidadania_2011.pdf

SANTOS, Milton. O espaço sem cidadãos. In: SILVA, Elisiane; NEVES, Gervásio; MARTINS, Liana. Milton Santos: O espaço da cidadania e outras reflexões. Porto Alegre: Fundação Ulysses Guimarães, 2011e. (p. 119-126). Disponível em: https://professor.ufrgs.br/dagnino/files/santos_milton_espaco_da_cidadania_2011.pdf

SANTOS, Milton. O cidadão mutilado. In: SILVA, Elisiane; NEVES, Gervásio; MARTINS, Liana. Milton Santos: O espaço da cidadania e outras reflexões. Porto Alegre: Fundação Ulysses Guimarães, 2011d. (p. 94-108) Disponível em: https://professor.ufrgs.br/dagnino/files/santos_milton_espaco_da_cidadania_2011.pdf