As fronteiras e a formação do sul do Brasil

De acordo com Vieira (2013):

No que diz respeito ao processo de produção territorial e urbano do sul do Brasil é possível afirmar que do ponto de vista do processo histórico o estudo se insere na lógica da produção do espaço observado após o declínio da produção açucareira no Brasil. O chamado “século do açúcar” teve vigência entre 1570 e 1670, dominando as relações sociais de produção no Brasil. Sob essa lógica, toda a sociedade se organizou, sendo incipiente qualquer outra forma de relação econômica e política até então. Já após a unificação das coroas de Portugal e Espanha há uma alteração nesse quadro, e Portugal preocupa-se cada vez mais com a definição dos domínios territoriais. Com a influência da Inglaterra, interessada na prata espanhola de Potosi, os portugueses buscam ampliar seu território, adotando interpretações parciais para os tratados firmados. Ampliam o limite do tratado de Tordesilhas, avançam extremamente para o sul até Colônia de Sacramento para intervirem no comércio clandestino da prata, controlado pelos espanhóis em Buenos Aires. Essa situação desagrada a Espanha que empurra os portugueses até Laguna e desencadeia uma série de avanços e retrocessos demarcatórios na esteira dos quais surgem cidades como fortificações de defesa, acampamentos militares e outras formas com interesse de garantir o domínio do território.

Buenos Aires já estava instalada nas margens do rio da Prata desde 1537, Colônia do Sacramento surge em 1680 e Montevidéu em 1729. Em 1737 Rio Grande representa uma posição de defesa para os portugueses e, em 1780, Pelotas aparece como centro de um núcleo charqueador. Ainda, no lado argentino, entre os rios Paraná e Uruguai, há um intenso processo de destruição de bases indígenas e de cidades consolidadas, o que também ocorre no Brasil, na porção oeste do Rio Grande do Sul. Enfim, a região do Prata se constitui em uma região de definição de fronteira, neste período que se pretende terminado no final do século XVIII, com a assinatura do tratado de Santo Ildefonso, em 1777 (Fig. 1 e 2), mas que avança um pouco mais até a definição das fronteiras entre Brasil, Argentina e Uruguai, que se estabelece em 1828 com a independência uruguaia.

Em todo esse imenso território, desde o estuário do rio da Prata, ao sul, até o rio Uruguai, no norte e desde o Oceano Atlântico, no leste, até o rio Paraná, no oeste, intervém com uma sociedade que se forma nessa disputa, no processo definidor de fronteiras, no embate político e militar pela posse do território. As cidades que aparecem nessa região guardam essa dinâmica na sua fundação e a perpetuam nas representações sociais e nas formas espaciais.

Figura 1 – Mapa com os limites de diferentes tratados no Rio Grande do Sul

Fonte: Magnoli, Oliveira e Menegotto (2001) apud Vieira (2013)

Figura 2 – Região Platina e principais cidades no período colonial

Fonte: Magnoli, Oliveira e Menegotto (2001) apud Vieira (2013)

Referências:

MAGNOLI, Demétrio; OLIVEIRA, Giovana e MENEGOTTO, Ricardo. Cenário gaúcho. Representações históricas e geográficas. São Paulo: Moderna, 2001.

MURADÁS, Jones. A Geopolítica e a formação territorial do sul do Brasil. Tese (doutorado) Geografia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Geociências. Programa de Pós-Graduação em Geografia. Porto Alegre, UFRGS, 2008.  (Orientador: Neves, Gervasio Rodrigo).  http://hdl.handle.net/10183/15718

Duarte Martins, Roberto. A ocupação do espaço na fronteira Brasil-Uruguay: A construção da cidade de Jaguarão. Department/Institute: Universitat Politècnica de Catalunya. Departament de Composició Arquitectònica. 2002. ISBN: 8468805769. (Director: Guàrdia i Bassols, Manuel). http://hdl.handle.net/10803/6077

VIEIRA, Sidney Gonçalves. As cidades do Prata, Terra Brasilis [Online], 2 | 2013, posto online no dia 21 junho 2013, consultado o 14 dezembro 2022. URL: http://journals.openedition.org/terrabrasilis/795; DOI: https://doi.org/10.4000/terrabrasilis.795