O objetivo do trabalho é compreender as forças e movimentos sócio-políticos que atuaram na construção e sustentação do Golpe de 1964, apresentadas ao longo dos capítulos: a atuação das classes dominantes na construção de uma cultura política anticomunista, as instituições representativas das classes produtoras, Farsul, Fiergs, Federasul, e os partidos políticos aliados ao governador Ildo Meneghetti.
O trabalho é muito bem escrito, a narrativa é bastante envolvente e os quatro capítulos estão bem articulados entre si.
O tema é importante, aborda o golpe de 1964 pela ótica regional, sem esquecer ou descuidar das articulações com os contextos nacional e internacional.
A discussão historiográfica está presente e é pertinente. O autor dialoga com os autores sobre o golpe de 1964 que tiveram objetivo de compreender os personagens que deram sentido ao golpe.
Na introdução, há um sub-item intitulado "Sobre teoria e metodologia", curioso que o autor tenha sentido necessidade de justificar a opção por trabalhar com tema do presente. Mais importante do que isso, no entanto, foi a incorporação de Gramsci e do tema da tentativa de construção de hegemonia por parte das classes dominantes como forma de entender os antecedentes do golpe de 1964.
Eu teria basicamente três observações:
1. A opção de trabalhar com apenas uma fonte de pesquisa, leia-se o jornal "Correio do Povo" deveria ser justificada. Cada um dos capítulos poderia ter sido enriquecido com fontes específicas dos "sujeitos sociais" abordados, não apenas com documentos oficiais das instituições associativas e partidos, mas também com entrevistas;
2. Ainda que a discussão historiográfica tenha sido adequada, observo que a bibliografia utilizada foi pobre, conquanto não incluiu dissertações e teses que vem sendo produzidas em profusão nos nossos Programas de Pós-Graduação em História do Estado do RS, justamente sobre a situação do golpe no estado;
3. Era imprescindível situar a tese gramsciana sobre hegemonia no contexto na qual ela foi produzida e para quais grupos sociais o próprio Antonio Gramsci estava pensando, mas, sobretudo, faço a seguinte reflexão: segundo minha concepção, a condição sine qua non para a construção da hegemonia, no caso das classes dominantes, é um equilíbrio entre o consenso e a coerção, sendo o consenso predominante para que o domínio de classe se transforme em hegemonia (que exige a incorporação de demandas sociais variadas ao discurso e à prática daqueles que visam exercer a dominação). Segundo a minha ótica, a força predominou! Se a burguesia brasileira tivesse condições de exercer um poder hegemônico, dificilmente as forças armadas teriam optado pela intervenção direta.