Apresento a seguir dois textos de colegas historiadores, Marcos Silva (USP) e Benito Bisso Schmidt (UFRGS), sobre a regulamentação da profissão de historiador que tramitou no Senado e foi aprovada, e que agora deve tramitar na Câmara Federal. Essa luta pela regulamentação da profissão de historiador remonta os anos 1980 quando a pós-graduação em história já era uma realidade no país e os cursos de graduação em história estavam plenamente consolidados. É curioso, por isso, que existam pessoas que se manifestem contra a regulamentação dessa profissão. As profissões são regulamentadas para garantir que remuneradamente e de modo profissional atuem apenas aquelas pessoas que concluíram cursos superiores na área determinada. Não significa que outras pessoas, não formadas em Universidades devidamente credenciadas pelo Ministério da Educação, não possam se dedicar ao estudo e mesmo a escrever sobre o tema. Eu mesma, licenciada, especialista, mestre e doutora em história posso me deliciar com livros de medicina, que é aliás um dos meus temas de predileção, depois da história. Poderia, inclusive, escrever sobre Medicina, e alguém querer publicar! Posso investigar, estudar e emitir palpites e opiniões sobre as doenças, os medicamentos, os tratamentos e as políticas públicas de saúde. Mas não me permitam diagnosticar, prescrever ou operar um paciente. É para evitar esse tipo de problema que as profissões são regulamentadas.
No caso da história, não poderia ser diferente. Aos historiadores de ofício, profissionais formados em cursos de graduação e pós-graduação, deverá ser dada a exclusividade de trabalhar remunerados em escolas, museus, arquivos e sempre que houver a necessidade de nossa intervenção especializada. Mas todas as demais pessoas poderão continuar dando palpites sobre o passado, inclusive realizando investigações, pesquisas e escrevendo. Quanto mais história melhor; maior será o conhecimento sobre nós mesmos. Mas reservem a sala de aula para um graduado ou pós-graduado em história, ele adquiriu ferramentas importantes que não podem ser desprezadas por maior que seja o esforço de um curioso, como eu mesma na Medicina....