Projeto de pesquisa
A filosofia de Hume é apresentada oficialmente como uma "ciência do homem" ou da "natureza humana" (T xv) assentada "sobre um fundamento quase que completamente novo" (T xvi). Esta ciência se ocupa dos "poderes e faculdades humanas" para determinar-lhes a "extensão e força" (T xv) e procede a "aplicação da filosofia experimental aos assuntos morais", isto é, à metafísica, aos raciocínios abstrusos, profundos e difíceis, nos quais não obstante há certeza, conhecimento, contanto que se fundamente a busca na "experiência e observação" (cf. Introdução ao T). Portanto, o objetivo supremo parece ser a explicação do nosso funcionamento mental nas áreas do entendimento, das paixões e da moralidade. Mas devemos ter cuidado com a atribuição a Hume de um projeto explicativo nos moldes em que nós o compreenderíamos naturalmente hoje em dia. Hume identifica no Treatise os filósofos com os quais compartilha a concepção, considerada nova por ele, da tarefa: Locke, Shaftesbury, Mandeville, Hutcheson e Butler. O que é notável em serem estes os filósofos citados é que desta forma Hume parece querer indicar que também ele procura desenvolver uma "ciência da mente", sob a influência de Bacon, como uma "história natural da mente humana", ou seja, o método seria o natural-histórico de desenvolver esta "ciência" . Recentemente, a atribuição a Hume de um naturalismo foi feita com base em considerações muito diferentes das de Barry Stroud. H.O. Mounce defendeu que Hume deve ser entendido como pertencendo a uma tradição de pensamento que ele identifica como "naturalismo escocês", cujo traço distintivo geral é defender que "nosso conhecimento tem sua fonte não na nossa experiência ou raciocínio, mas em nossas relações com um mundo que transcende tanto nosso conhecimento quanto a nós mesmos" . É esta possibilidade que a pesquisa quer examinar em detalhe.