André Nilo Klaudat

Súmula:
A motivação para a ação foi tornada secundária para a sua avaliação moral na contemporaneidade. Posição central adquiriu a ação ante exigências de caráter legal quanto aos comportamentos humanos, isso em função da prevalência conferida nesta perspectiva teórica às consequências das nossas ações sobre nós e os outros, seus efeitos. Muitas vezes se pensa que se essas exigências são prejudiciais ao pleno desenvolvimento das nossas potencialidades humanas, tanto mais limitadas devem ser as pretensões das exigências morais quanto às nossas vidas. No entanto, Hume introduziu na modernidade a importância da consideração da motivação à ação para a aferição da sua moralidade como uma objeção às posições racionalistas, de cunho essencialista, quanto essa sua dimensão. Nisso a moralidade passa a ser um fenômeno que nos importa enquanto inserido nas vidas dos seres humanos como elas de fato se desenvolvem. Kant segue Hume quanto à importância da motivação para a moralidade, sem ela não haveria propriamente a ação com conteúdo moral. Mas a posição de Kant sobre o tópico envolve um imbricamento da sensibilidade com o entendimento articulado no conceito do sentimento de respeito. A dificuldade em relação a Kant diz respeito a esclarecer a natureza e função desse sentimento bona fide. A posição pré-crítica parece tornar a ocorrência do sentimento um garantidor da ação com dimensão moral, principalmente em resposta a um desafio cético quanto à produção dessa espécie de ação. A posição crítica quanto a esse sentimento parece o transformar na dimensão sensível ineliminável da plena incorporação da moralidade no desenvolvimento de uma vida humana digna na sua busca inexorável pela felicidade. Essas posições serão examinadas criticamente no curso.

Objetivos:
O curso visa familiarizar os pós-graduandos com a discussão sobre a natureza e a importância da motivação moral para a constituição da moralidade a partir do interesse meta-ético no tópico, em especial, da posição de Kant e das disputas sobre ela.

Método de Trabalho:
Aulas síncronas e encontros à distância para discussões.

Avaliação:
A nota no curso será conferida através da avaliação de um texto (na forma de um artigo) sobre tema previamente determinado.

Conteúdo Programático:
1. O legado de Hume: Sem motivação, que moralidade? A crítica aos racionalistas essencialistas.
2. O argumento motivacional de Kant na Fundamentação 1:
a) A primeira aparição do respeito.
b) Uma posição crítica? Um sentimento que garante a ação moral?
c) O contexto é especial, de mérito moral?
3. As molas propulsoras da razão prática pura:
a) Uma tarefa filosófica: o lugar sistemático do conceito (um processo subjetivo-necessário)
b) O amor de si natural e a arrogância moral.
c) A dor inevitável: a humilhação.
d) A natureza do respeito: a conformação de toda a sensibilidade e a penetração da lei moral na subjetividade do agente.
4. Felicidade e educação moral: a Doutrina do Método na segunda Crítica.

Bibliografia:
Bacin, Stefano: “The Meaning of the Critique of Practical Reason for Moral Beings: The Doctrine of Method of Pure Practical Reason”
Engstrom, Stephen: The Form of Practical Knowledge, A Study of the Categorical Imperative “The Triebfeder of Pure Practical Reason”“Reflection and Reason in Hume and Kant”
Herman, Barbara: The Practice of Moral Judgement Moral Literacy
“Transforming Incentives, Feelings and the Making of the Kantian Moral Agent”
“Morality and Everyday Morality”
“Morality and Moral Theory”
Hume, David: Treatise of Human Nature
Kant, Immanuel: Fundamentação da Metafísica dos Costumes (trad. Guido A. de Almeida)
Crítica da Razão Prática (trad. Valério Rodhen)
Prichard, H. A.: “Does Moral Philosophy Rest on a Mistake?”
Sayre-McCord, Geoffrey: “On Why Hume’s “General Point of View” Isn’t Ideal and Shouldn’t Be”.
Schönecker, D. & Wood, A.: A Fundamentação da Metafísica dos Costumes de Kant, Um Comentário Introdutório.
Taylor, Jacqueline: “Hume on Moral Motivation”.