Como penso a tradução entre poesia e filologia

Nos anos de 2020 e 2021, conduzi o projeto de extensão  "Um Poema Grego Antigo por Dia"  (@umpoemagrego) em parceria com Tadeu Andrade, da Universidade Federal da Bahia. O projeto consistiu em apresentar a um público leigo, sobretudo não-acadêmico, traduções de poesia grega. 

Isso me fez refletir sobre o lugar da tradução de poesia antiga e, desde então, tenho visto bastante valor em traduções claras, fluentes, franqueáveis ao leitor leigo, mas que ao mesmo tempo busquem conservar a poeticidade do texto de partida e dar algo da experiência de leitura do texto grego para quem não tem acesso a ele diretamente (e, nesse processo, muitas vezes as notas e comentários são indispensáveis).

No contexto dos Estudos Clássicos, muitas vezes se estabelece uma binomia: tradução poética x tradução filológica. 

Evito pensar nestes termos: a tradução deve cuidar de equilibrar as demandas diversas de um texto poético antigo, achar estratégias de tradução que comuniquem ao nosso tempo e ao mesmo tempo escapem de idiossincrasias que nada tem a ver com o tempo dos antigos. Nem sempre é um equilíbrio fácil de alcançar mas, para mim, tem sido assim que tenho gostado de pensar os meus objetivos profissionais no momento.

Tudo isso pra dizer que estou agora trabalhando nos comentários da minha tradução das Bacantes -- que nasceu no Um poema grego antigo por dia e, por isso, vai materializar todas essas reflexões (junto com meu interesse por História da tradução também: traduzir Bacantes é também reconhecer a riqueza dessa peça muito traduzida em português, na qual cada tradutor contribuiu com seu talento -- e isso não pode ser apagado pelo tempo).