Consciência, idealismo transcendental e realismo empírico

Resumo: Em sua crítica ao quarto paralogismo da psicologia racional na primeira edição da Crítica da razão pura, Kant oferece uma resposta ao que ele chama de idealismo problemático, posição que sustenta a impossibilidade da certeza da existência de coisas fora de nós. Nessa resposta, Kant distingue dois sentidos de “fora de nós”, transcendental e empírico: algo transcendentamente externo seria algo que existe como coisa em si mesma distinto de nós, e algo empiricamente externo é algo no espaço. Kant insiste que os objetos empiricamente externos são, tanto quanto os empiricamente internos, transcendentalmente internos e, como tais, representações, sendo sua existência, portanto, tão certa quanto a de nossas representações do sentido interno. Dada essa afirmação, não surpreende que críticos contemporâneos a Kant identificaram sua filosofia com um idealismo segundo o qual a única certeza é a da existência de seres pensantes e suas representações. Kant, contudo, se surprende com essa acusação, e procura responder diretamente a essas críticas em trechos do Prolegômenos. Por outro lado, a segunda edição da Crítica da razão pura reformula em grande parte a seção dos paralogimos, sendo que o quarto paralogismo em particular recebe uma formulação aparentemente muito distinta do que encontramos na primeira edição. Além disso, essa segunda edição introduz, na Analítica transncendental, uma nova seção, intitulada Refutação do idealismo. A questão sobre se essas alterações na segunda edição implicam somente acréscimo ou revisão da posição kantiana em relação às afirmações da primeira edição tem sido objeto de extenso debate na literatura secundária, e o exame dessa questão é fundamental para a comprensão da natureza do idealismo transcendental kantiano, em particular suas pretensões realistas. O presente projeto tem por objetivo, tomando por ponto de partida uma certa leitura da crítica kantiana ao quarto paralogismo na primeira edição, examinar essa trajetória kantiana buscando determinar o sentido do realismo empírico no contexto do idealismo transcendental.